A história de João Teixeira de Faria, popularmente conhecido como médium João de Deus, é um alerta poderoso sobre os riscos de depositar confiança cega em indivíduos que afirmam possuir dons espirituais extraordinários. Celebrado por décadas como pessoa bondosa, benfeitor e um médium capaz de realizar “curas espirituais” em sua Casa Dom Inácio de Loyola, localizada em Abadiânia, Goiás, João de Deus construiu uma reputação internacional. Contudo e infelizmente, essa fachada de santidade desmoronou como um castelo de cartas com as denúncias de dezenas de mulheres que relataram abusos cometidos durante atendimentos espirituais.
A máscara do curandeiro João de Deus desmorona
Por muito tempo, o médium João de Deus foi visto como um “instrumento divino”, supostamente capaz de intermediar milagres realizados por entidades espirituais. A Casa Dom Inácio de Loyola, fundada em 1976, recebia milhares de pessoas em busca de cura para doenças físicas e espirituais, incluindo celebridades de Hollywood e políticos renomados.
Entretanto, o que pouca gente desconfiava, é que a mesma mão que abençoava parecia operar de forma maligna nas sombras. Em dezembro de 2018, vieram à tona acusações de abusos sexuais durante atendimentos espirituais, marcando o início de sua queda.
Desde então, os desdobramentos jurídicos foram intensos. João de Deus foi condenado a mais de 118 anos de prisão em um dos processos, somando penas que ultrapassam 489 anos. Os crimes incluem estupro de vulnerável e violação sexual mediante fraude, cometidos contra dezenas de vítimas. Apesar disso, ele cumpre prisão domiciliar, beneficiado por sua idade avançada e estado de saúde.
O perfil de um habilidoso manipulador
João de Deus não surgiu do acaso. Sua trajetória revela um homem com carisma magnético e uma história de vida moldada para despertar empatia e admiração. Oriundo de uma família humilde, João interrompeu os estudos cedo e alegava não saber ler ou escrever, reforçando sua imagem de homem simples, supostamente escolhido pelo divino. Relatos de experiências mediúnicas desde a infância, como visões e premonições, somados à habilidade de atrair seguidores, pavimentaram seu caminho até o status de “líder espiritual”.
Contudo, a construção dessa imagem não era isenta de polêmicas. Ao longo dos anos, João de Deus foi acusado de crimes como contrabando, atentado ao pudor e até mesmo assassinato, embora nunca tenha sido condenado por esses atos até as denúncias de abuso sexual.
A vulnerabilidade encontrada nas pessoas que buscam ajuda
Os casos revelados nesse escândalo em torno de João de Deus não podem ser esquecidos e destacam um padrão preocupante: a vulnerabilidade das pessoas que buscam ajuda espiritual. Muitas das vítimas relataram que se aproximaram do médium em momentos de fragilidade, seja por questões de saúde, seja por crises emocionais. A promessa de cura em situações impossíveis para a medicina ou alívio espiritual tornou-se uma armadilha para que João exercesse controle e manipulasse essas pessoas.
Esse comportamento é comum em figuras que exploram a fé alheia. Ao posicionar-se como intermediário entre o humano e o divino, João de Deus criou um ambiente de poder e submissão, no qual questionar suas ações significava, para muitas vítimas, ir contra a própria fé.